Falta de privacidade 1 x 0 WhatsApp
O recurso de “check azul” do WhatsApp está dando o que falar. Agora, os remetentes de mensagens podem ter certeza de que os destinatários leram – ou não – as suas comunicações. E que as responderam ou ignoraram.
Este aparentemente simples recurso tecnológico representa muito mais do que percebemos à primeira vista. O “check azul” é um intruso que viola nossa privacidade. E, a exemplo do artigo Ladrões do Tempo no Mundo Digital, deixa nosso tempo ainda mais escasso.

O mundo vigiado de George Orwell retratado no livro 1984 não deixava nada – ou ninguém – passar despercebido. Com 30 anos de delay, o atual Mundo Digital se aproxima cada vez mais daquela ficção. Google, Facebook, WhatsApp, Instagram e outros fazem com que mesmo os mais discretos se vejam reféns da superconectividade e superexposição. E vítimas dos problemas por elas gerados.
Relaciono alguns de malefícios específicos que a confirmação de leitura do WhatsApp, o “check azul”, trazem para as nossas vidas:
1- Ele “obriga” a responder quem você não quer responder, sob pena de ser considerado, no mínimo, antipático ;
2- Ele obriga a responder QUANDO você não quer ou não pode responder;
3- Você será desvendado quando for parte de um grupo apenas por simpatia, vez que cada participante saberá o que você leu ou não;
4- Você não terá tempo de análise para respostas – por exemplo, alguém o convida para jantar – mas você precisa confirmar se terá tempo disponível, se existirá alguém para cuidar das crianças, se será possível desmarcar a visita ao médico naquele mesmo horário… Porém a dita confirmação pode acabar te obrigando a responder algo rapidamente. Ou, pior, você está em uma reunião de horas e alguém manda um WhatsApp com um pedido profissional. Mais tarde aquela mesma pessoa dirá que há X horas você recebeu a solicitação e nada fez.
E assim a tecnologia vai determinando as nossas vidas, através de recursos que têm tudo para serem bons, mas nos sufocam por conta de inexperiência e “necessidade” de exposição.
Espero ansiosamente pelo dia em que o senso comum nos proteja destas armadilhas. Só então, poderemos frequentar momentos sociais sem ter de responder à desagradável pergunta “Posso te marcar nesta foto?” com um conivente sorriso amarelo.
Será uma época de menos exposição, com a capacidade de conectividade digital que tanto almejamos. Usaremos então a tecnologia para nos comunicar, não para nos expor, nos vigiar, nos obrigar a explicar cada movimento nosso para terceiros ou transformar vidas particulares em maçantes biografias online.